Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.
Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem
e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro- vinha azul e doido-
que se esfacelou na asa do avião.
Andrade, Carlos Drummond de. "Claro enigma". In:- Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
Há 2 dias
Que lindo esse poema de Drummond. Não conhecia. Adorei o teu espaço!!!
ResponderExcluirObrigada, venha sempre. De fato, o poema é maravilhoso!
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