Mostrando postagens com marcador Eugênio de Andrade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Eugênio de Andrade. Mostrar todas as postagens

domingo, 15 de agosto de 2010

Rumor - Eugênio de Andrade

Acorda-me
um rumor de ave.
Talvez seja a tarde
a querer voar.

A levantar do chão
qualquer coisa que vive,
e é como um perdão
que não tive.

Talvez nada.
Ou só um olhar
que na tarde fechada
é ave.

Mas não pode voar.

Green god - Eugênio de Andrade

Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.

Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar,

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
de uma flauta que tocava.

Epitáfio - Eugênio de Andrade

Barcos ou não
ardem na tarde

No ardor do verão
todo o rumor é ave.

Voa coração.
Ou então arde!

Os frutos - Eugênio de Andrade

Assim eu queria o poema:
fremente de luz, áspero de terra,
rumoroso de águas e de vento.

Somos folhas breves - Eugênio de Andrade

Somos folhas breves onde dormem
aves de silêncio e solidão.
Somos só folhas ou o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser.

Cantas. E fica a vida suspensa. - Eugênio de Andrade

Cantas. E fica a vida suspensa.
É como se um rio cantasse:
em redor é tudo teu;
mas quando cessa o teu canto
o silêncio é todo meu.