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sábado, 29 de dezembro de 2012

Ofício - Gastão Cruz

Os poemas que não fiz não os fiz porque estava
dando ao meu corpo aquela espécie de alma
que não pode a poesia nunca dar-lhe.

Os poemas que fiz só os fiz porque estava
pedindo ao corpo aquela espécie de alma
que somente a poesia pode dar-lhe.

Assim devolve o corpo a poesia
que se confunde com o duro sopro
de quem está vivo e ás vezes não respira.

Cruz, Gastão. "As palavras e as coisas". In:____. Escarpas. Lisboa: Assírio e Alvim, 2010.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Canção dos dias grandes - Gastão Cruz

A tarde não termina
porque o dia se esquece
de correr a cortina
pra que ele próprio cesse

É dia é dia ainda
vamos brincar correr
depois será bem-vinda
a noite que vier

E um frio tão fino
tão pouco já, tão leve
joga com o menino
no crepúsculo breve



A lua no cinema e outros poemas/organização Eucanaã Ferraz. - São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.

A canção da primavera - Gastão Cruz

A primavera canta
ouvi a sua voz
o rouxinol espanta-se
de ouvi-la como nós

A primavera canta
vais ouvi-la também
quando um pássaro canta
não se ouve mais ninguém

a primavera é ave
é ela o rouxinol
há pássaro que lave
melhor a luz do sol?



A lua no cinema e outros poemas/ organizador Eucanaã Ferraz. - São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O que fez sentido - Gastão Cruz

Reformulamos o amor porém se fórmula
não existia como repeti-la?

É preciso criar um eco ambíguo
que deixe de ser eco e tome a forma

do que viver possa ter sido:
encontraremos restos do sentido

que num instante incerto alguma coisa fez
e nunca poderá ser repetido.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Os ouvidos produzem - Gastão Cruz

Os ouvidos produzem
o som há muito decomposto entre
as folhas dos dentes.

E pode um filho ouvir o mesmo mar
que nada mais será o
caos das folhas.

Tens em torno de ti o mar descrito
és o filho
que escuta os meus ouvidos.