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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Amor bastante - Paulo Leminski

quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você
caminhando junto


Leminski, Paulo. La vie en close. São Paulo: Brasiliense, 1991.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ai daqueles... - Paulo Leminski

ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa.



Traço de poeta. - 1ª ed. - São Paulo: Global, 2006.- (Antologia de poesias para jovens)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

quando eu tiver setenta anos - Paulo Leminski

quando eu tiver  setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar o meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.


Leminski, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1985

sábado, 21 de janeiro de 2012

[ meus amigos] - Paulo Leminski

meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
outra coisa

presença
olhar
lembrança calor

meus amigos
quando me dão a mão
deixam na minha
a sua mão



A lua no cinema e outros poemas/ organização Eucanã Ferraz. - São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Quando eu tiver setenta anos - Paulo Leminski

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar esta vida louca
e terminar minha livre-docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.



A lua no cinema e outros poemas/ organização Eucanaã Ferraz. - São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

domingo, 24 de julho de 2011

Sintonia para pressa e presságio - Paulo Leminski

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do movimento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.



Moriconi, Italo(organizador)
Os cem melhores poemas brasileiros do século/Italo Moriconi(organizador)
-Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Blade Runner Waltz - Paulo Leminski

Em mil novecentos e sempre,
Ah, que tempos aqueles,
dançamos ao luar, ao som da valsa
A perfeição do Amor Através da Dor e da Renúncia,
nome, confesso, um pouco longo,
mas os tempos, aquele tempo,
Ah, não se faz mais tempo
como antigamente
Aquilo sim é que eram horas,
dias enormes, semanas anos, minutos milênios,
e toda aquela fortuna em tempo
a gente gastava em bobagens,
amar, sonhar, dançar ao som da valsa,
aquelas falsas valsas de tão imenso nome lento
que a gente dançava em algum setembro
daqueles mil novecentos e oitenta e sempre.

La vie en close/Paulo Leminski. São Paulo: Brasiliense, 1991.

domingo, 12 de setembro de 2010

A lua no cinema - Paulo Leminski

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
-Amanheça, por favor!

Aviso aos náufragos - Paulo Leminski

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?

de som a som - Paulo Leminski

de som a som
ensino o silêncio
a ser sibilino

de sino a sino
o silêncio ao som
ensino

Um deus também é o vento - Paulo Leminski

um deus também é o vento
só se vê nos seus efeitos
àrvores em pânico
bandeiras
água trêmula
navios a zaspar

me ensina
a sofrer sem ser visto
a gozar em silêncio
o meu próprio passar
nunca duas vezes
no mesmo lugar

a este deus
que levanta a poeira dos caminhos
os levando a voar
consagro este suspiro

nele creça
até virar vendaval

Das coisas que eu fiz a metro - Paulo Leminski

Das coisas
que eu fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros
são

aquelas
em centrímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos
não?

sábado, 10 de abril de 2010

Sinfonia para pressa e presságio - Paulo Leminski

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.



Eis a voz, eis o deus, eis a fala,

eis que a luz se acendeu na casa

e não cabe mais na sala.







LEMINSKI, Paulo. La vie en close. São Paulo: Brasiliense, 1991.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Para umas noites que andam fazendo - Paulo Leminski

Deixe eu abrir a porta
quero ver se a noite vai bem

Quem sabe a lua lua
ou nos sonhos crianças
sombras murmuram amém

Deixa ver quem some antes
a nuvem a estrela ou ninguém.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sujeito indireto - Paulo Leminski

Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, sujeito indireto.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Amor bastante - Paulo Leminski

Quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante.

Abaixo o além - Paulo Leminski

de dia
céu  com nuvens
ou céu sem

de noite
não tendo nuvens
estrelas
sempre tem.

quem me dera
um céu vazio
azul isento
de sentimento.

Você está tão longe... - Paulo Leminski

Você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo

nem fale em amor
que amor é isto.

Um bom poema leva anos... - Paulo Leminski

Um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto.

É tudo o que sinto - Paulo Leminski

Inverno
É tudo o que sinto
Viver
É sucinto.