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domingo, 16 de outubro de 2011

Basta de ser o outro - Paulo Bonfim

Basta de ser o outro...
O herdeiro da terra,
O neto de seus avós!
Basta de ser
O que leu
E o que ouviu...
À terra devolvo
O cálcio, o ferro, o fósforo;
À nuvem devolvo a água rubra,
Aos mortos,
As angústias herdadas,
Aos vivos
Os gestos e as palavras recebidas...
Basta de ser o outro,
Colcha de retalhos alheios,
Cobrindo um frio verdadeiro.



Bonfim, Paulo. Poemas escolhidos. Círculo do livro.

Soneto XXIV - Paulo Bonfim

Agora, peço muito que me ajudes
A retornar ao ponto de partida,
Novos olhos revejam minha vida
Antes que ela transborde dos açudes.

Despirei nesse instante as atitudes,
Minha roupa de estrelas já cerzida,
O chapéu de alvoradas e a esquecida
Capa de chuvas e de ventos rudes.

Comigo ficarão unicamente
Os versos que escrevi e as derradeiras
Flores que desfolhaste em minha mente.

Depois, no grande espelho, a tarde é calma:
- Saber que passo além destas fronteiras,
Com meus disfarces já cobertos de alma!



Bonfim, Paulo. Poemas escolhidos. Círculo do Livro

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Epitáfio para meu silêncio - Paulo Bonfim

Que teu sorriso
Seja pássaro
Ardendo plumas
Sobre meu silêncio

E teus olhos
Inventem nuvens
Chovendo deuses
Sobre meu silêncio

Que tuas mãos
Carícias
Plantem despedidas
Sobre meu silêncio
E tuas palavras
Fiquem sempre verdes
Machucando sombras
Sobre meu silêncio.

Soneto l - Paulo Bonfim

No ramo a flor será sempre segredo
Moldando realidades no vazio,
Caminho de perfume, rosa e estio,
Crescendo além dos roseirais do medo.

História das raízes sem enredo...
Rolam frases de terra pelo rio,
As consoantes de luz tremem de frio
E as vogais orvalhadas morrem de medo.

No ramo a flor será sempre futuro,
Haste e corola nos confins do sonho,
Marcando de infinito a cor do muro...

Sempre a cor sobre a senda debruçada,
E o perfume crescendo onde reponho
O sentido da flor despetalada.