Saudade de um eu
de que me dão notícia
como do irmão gêmeo
que se perdeu
ou de algo distante:
um primo ou conhecido
que usou um terno meu.
Me dizem
que conversaram com "ele"
ou "eu"
Há quem o tenha tocado
e dele ouvido frases de amor
e pasmo.
Viram-no descendo ruas do interior
pregando nas esquinas
desejando suas vizinhas
depois escalando árvores , edifícios, pirâmides
procurando algo que se perdeu
lendo hieroglifos
na biblioteca de Babel.
Outros o viram grave e irônico opinando
ou desatento olhando para o lado
de dentro
de insolúveis questões.
Para alguns parecia estar apressado
como se fosse buscar o futuro
ou inaugurar o passado.
Gostaria de rever esse menino
que dizem que fui eu.
Então o acolheria
incorporando-me ao que fui
e há muito se perdeu.
Enfim lhe pediria
aceite-me de volta
não sou teu pai
sou filho teu.
Vestígios/Affonso Romano de Sant'Anna.- Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
Há 2 dias
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