sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ESPELHO Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,


assim calmo, assim triste, assim magro,


nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.





Eu não tinha estas mãos sem força,


tão paradas e frias e mortas;


eu não tinha este coração que nem se mostra


Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:


- Em que espelho ficou perdida a minha face?





Cecília meireles

Um comentário:

  1. IV

    Adormece o teu corpo com a música da vida.
    Encanta te.
    Esquece te.
    Tem por volúpia a dispersão.
    Não queiras ser tu.
    Quere ser a alma infinita de tudo.
    Troca o teu curto sonho humano
    Pelo sonho imortal.
    O único.
    Vence a miséria de ter medo.
    Troca te pelo Desconhecido.
    Não vês, então, que ele é maior?
    Não vês que ele não tem fim?
    Não vês que ele és tu mesmo?
    Tu que andas esquecido de ti?

    Da Cecília no livro "Cânticos", Editora Moderna, 1983.

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