Entre mim e a vida há uma ponte partida
Só os meus sonhos passam por ela...
Às vezes na aragem vêm de outra margem
Aromas a uma realidade bela;
Mas só sonhando atravesso o brando
Rio e me encontro a viver e a crer...
Se olho bem, vejo - pobre do desejo! -
Partida a ponte para Viver.
E então memoro num choro
Uma vida antiga que nunca tive
Em que era inteira a ponte inteira
E eu podia ir para onde se vive
E então me invade uma saudade
Dum misterioso passado meu
Em que houvesse tido um outro sentido
Que me falta pra ser, não sei como, eu.
Pessoa, Fernando, 1888-1935.
Poesia, 1902-1917/ Fernando Pessoa; edição Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas e Madalena Dine. - São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
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