domingo, 11 de novembro de 2012

Parte de entrevista de Ferreira Gullar a Revista Veja


     Já fiquei onze anos sem publicar um livro. Meu último saiu há há onze anos. Poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto, alguma coisa da vida que eu vejo e não sabia. Só escrevo assim. Estou na praia, lembro do meu filho que morreu. Ele via aquele mar, aquela paisagem. Hoje estou vendo por ele. Aí começo um poema... Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos.
Não dá para escrever um poema sobre qualquer coisa.
     O mundo aparentemente está explicado, mas não está. Viver em um mundo sem explicação alguma ia deixar todo mundo louco. Mas nenhuma explicação explica tudo, nem poderia. Então de vez em quando o não explicado se revela e é isso que faz nascer a poesia. Só aquilo que não se sabe pode ser poesia.


                                                               Ferreira Gullar












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