domingo, 1 de novembro de 2009

Cantiga - Cecília Meireles


Bem-te-vi que estás cantando


nos ramos da madrugada,


por muito que tenhas visto,


juro que não viste nada.




Não viste as ondas que vinham


tão desmanchadas na areia,


quase vida, quase morte,


quase corpo de sereia...




E as nuvens que vão andando


com marcha e atitude de homem,


com a mesma atitude e marcha


tanto chegam como somem.




Não viste as letras que apostam


formar idéias com o vento...


E as mãos da noite quebrando


os talos do pensamento.




Passarinho tolo, tolo,


de olhinhos arregalados...


Bem-te-vi, que nunca viste


como os meus olhos fechados...

Um comentário:

  1. Essa delicadeza só é possível encontrar nos poemas de Cecília Meireles.Como eu amo essa mulher!

    ResponderExcluir