domingo, 25 de julho de 2010

Cinco da Tarde - Affonso Romano de Sant'Anna

Estas cinco horas da tarde
jamais voltarão a acontecer.

A mulher lendo e escrevendo à mesa
enquadrada por orquídeas no jardim.
O Sol numa rajada de luz
entre cortinas e ramagens.
A cama desfolhada, possuída
num repouso de lembranças.

Leio um ensaio sobre a poetisa
que ajudei a parir.

Nunca mais estarei aqui
às cinco horas de uma tarde assim.

Na estrada, entre pinheiros,
passa, de bengala, o vizinho
que envelhece,
vai comer bolo e chá
com a vizinha pianista.

Pássaros cantando, insetos voam
e eu sinto uma paz absurda
como se essas cinco horas da tarde
fossem me transcender.

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