sábado, 31 de julho de 2010

Morte da formiga - Cecília Meireles

Levantou-se como um cavalo furioso
e abriu no ar seus bracinhos tênues.

Menor que qualquer letra:
mais fina que qualquer fio.

E eu pensei como seria o sofrimento
naquele corpo mínimo?
Porque sempre se sofre.

E eu pensei que seria o sol que a queimava
no ardente ladrilho.

E aproximei-lhe uma gota d'água
e um grão de terra fresca.
E ela se retorceu entre a água e a terra.
E era um silêncio terrível o da sua pequenez.

Depois caiu vencida.
Menor que um cílio. Menor.
E nem ela certamente
- mas apenas eu, e por quê? -
soube da sua morte.

Alto, vasto, azul,
como era belíssimo o céu
em redor deste mundo!

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