Começo a alhar as coisas
como quem, se despedindo, se surpreende
com a singularidade
que cada coisa tem
de ser e estar.
Um beija-flor no entardecer desta montanha
a meio metro de mim, tão íntimo,
essas flores às quatro horas da tarde, tão cúmplices,
a umidade da grama na sola dos pés, as estrelas
daqui a pouco, que intimidade tenho com as estrelas
quanto mais habito a noite!
Nada mais é gratuito, tudo é ritual.
Começo a amar as coisas
com a desprendimento que só têm
os que amando tudo o que perderam
já não mentem.
Sant'Anna, Affonso Romano de, 1937-
Poesia Reunida: 1965/1999/ Affonso Romano de Sant'Anna.--Porto Alegre: L&PM, 2004
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
Há 2 dias
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