quinta-feira, 10 de maio de 2012

Juana aos quatro anos - Eduardo Galeano

Anda Juana e dá-lhe conversa com a alma, que é tua companheira de dentro, enquanto caminha pela beira da calçada, na pequena cidade de San Miguel  de Nepantla. Ela sente-se muito feliz porque tem soluço,e Juana cresce quando tem soluço. Para e olha a sombra, que cresce com ela, e com um galho vai medindo depois de cada pulinho de sua barriga. Também os vulcões cresciam com o soluço, antes, quando estavam vivos, antes de que os queimasse o seu próprio fogo. Dois dos vulcões ainda fumegam , mas já não têm soluço. Já não crescem. Juana tem soluço e cresce. Cresce.
Chorar, em compensação, encolhe. Por isso têm tamanho de barata as velhinhas e as carpideiras dos enterros. Isso não dizem os livros do avô, que Juana lê, mas ela sabe. São coisas que sabe, de tanto conversar com a alma. Também com as nuvens conversa Juana.Para conversar com as nuvens é preciso subir nas montanhas ou nos galhos mais altos das árvores.
- Eu sou nuvem. Nós, nuvens, temos carase mãos. Pés, não.



Galeano, Eduardo, 1940-
Mulheres/ Eduardo Galeano; tradução de Eric Nepomuceno.- Porto Alegre: L&PM, 2011.

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