Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paiçandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça.
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade.
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há-de-vir,
O joelho na Universidade,
Saudade.
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.
Moriconi, Italo(organizador)
Os cem melhores poemas brasileiros do século/Italo Moriconi (organizador)
-Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
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