sábado, 31 de outubro de 2009

Detrás do rosto - Ferreira Gullar


Acho que mais me imagino

do que sou

ou o que sou não cabe

no que consigo ser

e apenas arde

detrás desta máscara morena

que já foi rosto de menino.


Conduzo

sob minha pele

uma fogueira de um metro e setenta de altura.


Não quero assustar ninguém.

Mas se todos se escondem no sorriso

na palavra medida

devo dizer

que o poeta gullar é uma criança

que não consegue morrer


e que pode

a qualquer momento

desintegrar-se em soluços.


Você vai rir se lhe disser

que estou cheio de flor e passarinho

que nada

do que amei na vida se acabou:

e mal consigo andar

tanto isso pesa.


Pode você calcular quantas toneladas de luz

comporta

um simples roçar de mãos?

ou o doce penetrar

na mulher amorosa?


Só disponho de meu corpo

para operar o milagre

esse milagre

que a vida traz

e záz

dissipa às gargalhadas.

Um comentário:

  1. Que poemas lindos do gullar! Nao conhecia! Que bom que vc e ele estao se dando bem! =D

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