sábado, 31 de outubro de 2009

Uma Nordestina - Ferreira Gullar


Ela é uma pessoa

no mundo nascida.

Como toda pessoa

é dona da vida.


Não importa a roupa

de que está vestida.

Não importa a alma

aberta e ferida.

Ela é uma pessoa

e nada a fará

desistir da vida.

nem o sol de inferno

a terra ressequida

a falta de amor

a falta de comida.

É mulher é mãe:

rainha da vida.


De pés na poeira

de trapos vestida

é uma rainha

e parece mendiga:

a pedir esmolas

a fome a obriga.


Algo está errado

nesta nossa vida:

ela é uma rainha

e não há quem diga.







Um comentário:

  1. Os sertões - Euclides da Cunha

    ...Grenhas maltratadas de crioulas retintas;
    cabelos corredios e duros, de caboclas;
    trunfas escandalosas, de africanas;
    madeixas castanhas e louras de brancas legítimas,
    embaralhavam-se, sem uma fita, sem um grampo,
    sem uma flor, o toucado ou a coifa mais pobre.
    Nos vestuários singelos,de algodão ou de chita,
    deselegantes e escorridos,
    não havia lobrigar-se a garridice menos pretensiosa:
    Um xale de lã, uma mantilha ou um lenço de cor,
    atenuando a monotonia das vestes encardidas
    quase reduzidas a saias e camisas estraçoadas,
    deixando expostos os peitos cobertos de rosários,
    de verônicas, de cruzes, de figas, de amuletos,
    de dentes de animais, de bentinhos,
    ou de nôminas encerrando cartas santas,
    únicos atavios que perdoava
    a ascese exigente do evangelizador.
    Aqui, ali,extremando-se a relanços
    naqueles acervos de trapos,
    um ou outro rosto formosíssimo, em que ressurgiam,
    suplantando impressionadoramente a miséria...

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