Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica ao meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te; e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
À ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que me sonho o que me sinto sendo.
TEXTO SOBRE PRAIEIROS
Há uma semana
Ainda bem que os pesquisadores resgataram mais poemas do enorme continente inédito de Pessoa naquele famoso baú dos papéis que deixou ao morrer. Sorte nossa que poderemos apreciar e redimensionar a importãncia de sua magnífica obra.
ResponderExcluirFernando Pessoa figura entre os maiores! Adoro ler e reler seus poemas!
ResponderExcluir