sexta-feira, 24 de junho de 2011

Agora que sinto amor - Fernando Pessoa (por Alberto Caeiro)

Agora que sinto amor
Tenho interesse nos perfumes.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.



Pessoa/Fernando, 1888-1935.
Poesia/Alberto Caeiro; edição Fernando Cabral Martins,
Richard Zenih.- São Paulo: Companhia das letras,2001

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