Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.
Meireles, Cecília, 1901-1964
Palavras e pétalas/ Cecília Meireles; [organizador Antonio Carlos Secchin].
-Rio de Janeiro: Desiderata, 2008.
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
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