sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Soneto - Mário de Andrade

Aceitarás o amor como eu o encaro?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... A evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.



Moriconi, Italo(organizador)
Os cem melhores poemas brasileiros do século/ Italo Moriconi(organizador).-Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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