Fica provada a certeza
da árvore verde na primavera
e do córtex terrestre
- alimentam-nos os planetas
apesar das erupções
e o mar nos oferece peixes
apesar de seus maremotos -
somos escravos da terra
que também é dona do ar.
Passeando por uma laranja
eu passei mais de uma vida
repetindo o globo terrestre
- a geografia e a ambrosia -
os jogos cor de jacinto
e um cheiro branco de mulher
como as flores da farinha.
Nada se consegue voando
para se escapar deste globo
que te aprisionou ao nascer.
E há que confessar esperando
que o amor e o entendimento
vêm de baixo, se levantam
e crescem dentro de nós
como cebolas , azinheiras,
como tartarugas ou flores,
como países, como raças,
como caminhos e destinos.
Neruda, Pablo, 1904-1973.
O coração amarelo/Neftali Ricardo Reyes; tradução Olga Savary - Porto Alegre: L&PM, 2010.
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
Há 21 horas
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