A voz de Belém de Nazaré foi um dos primeiros jornais na história da humanidade; se ainda estivesse em circulação, estaria completando 2000 anos. Mas a verdade é que não durou mais que alguns números.
O jornal não era impresso; a tecnologia para isso não havia sido inventada. Os cem exemplares que constituíam a tiragem eram copiados a mão, em pergaminho, por uma numerosa equipe de escribas. Os leitores eram poucos, mas selecionados: o rei Herodes, por exemplo, estava entre os assinantes, bem como autoridades romanas.
O proprietário, que era também o editor e o único repórter, esforçava-se por obter o que hoje seria denominado de furos de reportagem. Não era muito fácil. Belém de Nazaré era uma cidade pequena e nada tinha a ver com o poder. O homem sonhava com um grande acontecimento, que lhe permitisse colocar uma manchete em letras garrafais."É o fim do Império Romano", seria uma interessante, mas ainda pouco provável. De modo que pressionava continuamente seus informantes a caçarem novidades.
Certa manhã, um deles veio procurá-lo com uma notícia verdadeiramente sensacional: três reis tinham aparecido em Belém, soberanos vindos de locais longínquos. A princípio o jornalista não acreditou: três reis em Belém? Três? Decidiu imediatamente procurá-los.
Quando os encontrou, já estavam de partida e não queriam falar à imprensa. Mas ele insistiu e os potentados acabaram contando: tinham vindo à cidade , guiados por uma estrela, para ver um bebê que acabara de nascer e que mudaria os rumos do mundo.
Ele não acreditou, claro. Três reis andariam quilômetros e quilômetros por causa de uma criança? Absurdo.Certamente havia uma história por trás daquela viagem, e essa história só podia ser uma intriga política. Talvez os três reis estivessem tramando uma aliança para dominar a região. Talvez estivessem em vias de estabelecer um novo poder. Os soberanos, contudo, insistiam em sua versão.
Frustrado embora, não deixou de escrever uma matéria a respeito, falando no mistério político representado pela vinda dos três monarcas. Não se deu, claro, ao trabalho de ir à manjedoura onde eles diziam ter estado.
Mas mesmo que fosse lá , e mesmo que visse o recém-nascido, não daria importância ao fato. Pobres às vezes nascem em lugares estranhos. Como uma manjedoura em Belém de Nazaré.
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
Há uma semana
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