sábado, 5 de junho de 2010

Morte -- Guilherme de Almeida

Pois se ela tem que vir, que venha ao menos
num domingo de sol!
Que a manhã seja clara, os céus serenos,
bem alvo o meu lençol!

Alvíssimo: da cor das coisas puras.
Eu gosto dessa cor.
Detesto o negro, o luto, as amarguras,
a tristeza...Que horror!

Que os sinos cantem, nessa madrugada,
bem altos: dlon! dlin! dlan!
E passe muita gente endomingada,
no ar fresco da manhã!

Vestidos claros, de limpeza extrema,
em que o tempo veloz
guarda as dobras e o cheiro de alfazema
das arcas dos avós...

Que perpassem, de leve, nas calçadas,
com muita devoção,
criancinhas saudáveis e enfeitadas,
que vêm da comunhão!

Que desfilem, na rua, as orfãzinhas
de olhar casto e infantil,
nas suas saias muito engomadinhas,
carregadas de anil!

E que as boas velhinhas, escutando
os sinos - dlon! dlin!  dlan! -
passem muito felizes, tropeçando
nos seus chales de lã!

Que haja sol, que haja luz, que haja alegria
no dia em que ela vier!
Porque a terra terá, doce e macia,
um calor de mulher...

E eu passarei, no meio desse povo
religioso e feliz,
endomingado, no meu terno novo,
sapatos de verniz...

Se tudo for assim alegre e puro
no dia em que eu morrer,
eu levarei, no meu caixão escuro,
vontade de viver!

2 comentários:

  1. Guilherme foi uma pessoa de muito valor, as obras dele leva a gente para outro mundo, os poemas dele são muito lindo. Amo os poemas dele.

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  2. Ele deixa a Morte linda! Só um poeta como ele.!

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