Procura-se apartamento
pequeno, bem situado,
onde caibam dois amantes
de frente como de lado.
Quer-se bem perto do mar
e bem longe do barulho,
de modo que a única música
ouvida seja a de Bach,
de Corrette, de Bomporti,
com seus preciosos discos
arrumados de tal sorte
que inda caibam uns livros
de poesia, é claro,
e também (toda uma estante)
os tratados de Epicuro,
Descartes, Spinoza, Kant.
A mesa-de-cabeceira
deve ficar a seu cômodo
para que nenhuma aresta
machuque o amor na testa.
E a cama, sem ser estreita,
nem larga como avenida,
tenha espaço suficiente
para as doçuras da vida.
Caibam na pequena copa
a bandeja, o biscoitinho,
hoje guardados no armário
dos alvos lençóis de linho,
bem como aquelas garrafas
do escocês nacional
que a gente, faute de mieux,
ingere e não nos faz mal.
Procura-se apartamento
de quarto-e-sala (tão pouco
e tão muito), sem barata,
sem mosquito rezinguento,
sem vizinhos enervantes
que gritem palavras sujas,
sem terríveis, sem constantes
cortes d'água quando as nuas
formas já ensaboadas
se restauravam, cuidando
de logo após se enroscarem
nas formas do amor, amando.
Quem souber de tal imóvel
não fique imóvel: na asa
do vento me informe onde,
onde é que fica essa casa!
FEIRA DO LIVRO - PARTE 2
Há uma semana
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