domingo, 10 de janeiro de 2010

Saudade - Guilherme de Almeida

Só.
Para além da janela,
nem uma nuvem, nem uma folha amarela
manchando o dia de ouro em pó...
Mas, aqui dentro, quanta bruma,
quanta folha caindo, uma por uma,
dentro da vida de quem vive só!

Só - palavra fingida,
palavra inútil, pois quem sente
saudade, nunca está sozinho; e a gente
tem saudade de tudo nesta vida...
De tudo! De uma espera
por uma tarde azul de primavera;
de um silêncio;da música de um pé
cantando pela escada;
de um véu erguido; de uma boca abandonada;
de um divã; de um adeus; de uma lágrima até!

No entanto, no momento,
tudo isso passa
na asa do vento,
como um simples novelo de fumaça...
E é só depois de velho, uma tarde esquecida,
que a gente se surpreende e resmungar:
"Foi tudo o que vivi de toda a minha vida!"
E começa a chorar...

Um comentário:

  1. Amo este poema, marcou minha vida, foi o primeiro poema que recitei quando aprendi a ler e despertou em mim o desejo ardente de ser poeta.

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