segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Soneto da fiel infância - Ribeiro Couto

Tudo que em mim foi natural - pobreza,
Mágoas de infância só, casa vazia,
Lutos, e pouco pão na pouca mesa -
Dói na saudade mais que então doía.

Da lamparina do meu quarto, acesa
No pequeno oratório noite e dia,
Vinha-me a sensação de uma riqueza
Que no meu sangue de menino ardia.

Altas horas, rezando no seu canto,
Minha mãe muitas vezes soluçava
E dava-me a beijar não sei que santo.

Meu Deus! Mais do que o santo que eu beijava,
Faz-me falta o cair daquele pranto
com que ela junto ao peito me molhava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário